Noite de domingo, passava da meia noite, algo no dia de hoje mudou a trajetória dos meus pensamentos e ao invés de dormir e descansar para a semana que eu tinha certeza que eu ia encontrar, resolvi reviver algumas coisas que eu nem lembrava mais que estava lá. Fui até o começo, desde a primeira palavra, a primeira resposta, o primeiro suspiro e a primeira lágrima e a sensação foi como nascer de novo para o basquete, mais do que isso, reviver como tudo isso começou.
De fato eu não recordava por completo os primeiros passos até que percebi a divisão clara na minha vida, o momento em que decidi que precisava seguir em frente, parar de esperar por algo que não iria acontecer, precisava canalisar minha energia para algo que me fizesse bem, mas o mais importante que eu pudesse fazer bem para alguém, assim me sentiria útil e esqueceria a dor e o buraco que ficara em meu peito por ter sido ignorada, magoada, enganada e rejeitada. Por um momento foi estranho e até pensei que sentiria aquela dor novamente, mas não foi tão importante quanto perceber quanta falta eu sinto de todo esse universo que tanto amo.
Em lágrimas, até soluçar reli mensagens e consegui enxergar toda a evolução e a valiosa participação de pessoas que não conhecia até aquele momento, pessoas que até hoje fazem parte da minha vida. Revi momento importantes, decisivos e vi o quanto as pessoas se encantavam com a vontade que eu tinha de expressar o que sentia, sempre relacionando com o basquete, vi que de alguma forma aquilo era importante e sofri ainda mais pela sensação de acreditar que tudo isso caiu em desuso.
Agora talvez se perguntem o que aconteceu de tão avassalador para provocar essa imersão no passado, bem sempre me disseram, desde que comecei a trilhar esse caminho, que tenho o dom da escrita, que sei colocar as palavras de uma forma que contagie, que expresse o que estou sentindo sem ser piegas, que o que escrevo é de leitura agradável, é sensível, profundo e sempre achei que eram comentários demasiados, que um ou outro texto saia mais interessante e que eu chegava a questionar se realmente tinham sido escrito por mim, transcorrido algum tempo, porém nada foi tão contundente quanto o que li antecedendo o que lhes contei.
Tive a satisfação de reencontrar nesse universo digital um colega de trabalho dos tempos das Escolas Sid. Ele sempre foi um apaixonado pela arte da escrita e enquanto conversavamos, lhe apresentei esse “cantinho”. Depois de uns minutos ele retornou e tendo lido apenas um texto ele me disse que tinha gostado da forma como eu me expressava, que era persceptível o quanto o basquete era importante para mim e que eu não deveria parar, porque a forma como eu falava dele transmitia a sensação de que o basquete era meu “sol”.
Eu fiquei impressionada e olhando para a tela com lágrimas nos olhos. Vi um filme passar pela minha cabeça, não há nada que traduza com tanta nitidez e verdade o que o basquete foi e continua sendo em minha vida: meu sol, aquilo que me da confiança, força, energia, onde posso fechar meus olhos e seguir porque sei que mesmo por trás das nuvens continuará lá.
O basquete foi “meu sol” num dos momentos mais sombrios da minha vida, me trouxe luz, calor, me provocou sorrisos e me devolveu a alegria de escrever. O basquete tem sido “meu sol” em todas as turbulentas mudanças profissionais e nos grandes desafios que se postam a minha frente e também nos momentos decisivos e delicados da minha vida, sendo apenas que ele é, sem canalisar esforço algum para mim diretamente, transformou a minha vida, me ajudou a amadurecer, a encarar a vida com mais alegria, a estudar e me concedeu o privilégio de fazer parte de algo grandioso e extraordinário, mesmo que de longe.
Contar a minha história é contar um pouco da história dessa equipe, porque me envolvi de uma forma tão profunda que meus melhores momentos e minhas melhores histórias estão ligadas a eles. E mesmo agora, distante, ficou evidente para mim que nada mudou, ainda respiro basquete, ainda me emociono, só o que preciso é vencer minha insegurança mais uma vez e começar tudo de novo, porque assim é esse universo, começar e recomeçar sempre. Não dá para deixar para trás tanta coisa boa, até porque eu não quero deixar, eu firmei um compromisso e tudo isso só existe por causa de algo maior. Tudo que li foi como sofrer um choque de realidade e me fez perceber quanta falta tudo isso me faz, ficou a sensação de que estou mais distante do que realmente imaginava estar.
É difícil explicar o nó que surgiu na garganta quando me deparei com o orkut cheio de mensagens, recados, comentários, sim minha vida girava em torno do basquete e era a melhor coisa que eu fazia por ela, eu era uma pessoa melhor. Antigos recados, agradecimentos, mensagens tudo me transmitindo o quanto de alguma forma eu, através das palavras publicadas nesse blog fazia parte da vida das pessoas, isso me preenchia, me completava, longe fico vazia porque é essa sensação de ser compreendida, admirada, valorizada, das pessoas acreditarem nas minhas palavras, de as tomarem como verdade, serem gratas que me faz falta.
Fazia realmente muito tempo que não chorava tanto porque simplesmente constatei que me perdi, mas agora quero voltar, quero uma segunda chance porque não sei fazer outra coisa a não ser isso, não sei não amá-los, não importa que aparência ou que nomes tenham, vocês são meu sol, sejam atletas, comissão técnica, seja pessoas que compartilham desse amor pelo basquete, ou melhor ainda, pelo nosso basquete e que mesmo diante das dificuldades não deixaram de acreditar. Tudo se resume em amor e no que ele provoca em mim e no momento que transmito esse amor, meu coração se enche de satisfação e minha vida não fica vazia, ou sem graça, porque passo a ter um vínculo com algo muito maior do que eu mesma, passo a ser importante para algo ou para alguém, é uma necessidade vital.
E agora minha cabeça está acelerada a mil por hora com um único pensamento a pulsar, basquete, basquete, basquete, nas coisas que deixei de fazer, nas coisas que sinto que tenho que dizer e na agonia de não saber se há forma de recuperar o tempo perdido. Me ajudem a me encontrar, eu não sei como pude caminhar para tão longe se tudo que eu sempre precisei estava aqui o tempo todo.
Uau, que delícia esse texto, Ketty! Sabe, outro dia eu estava lembrando de algo que ouvi cerca de uma década atrás, e que dizia mais ou menos o seguinte: “Aquilo que não compartilhamos, acabamos por trancafiar dentro de nós mesmos, e isso também é uma forma de egoísmo”. Fiquei muito contente em poder reler um texto novo seu. Estarei acompanhando a partir de agora 😉
Beijos querida, continue a exortar essa linda paixão sua. Que ela dure para sempre 😉