Ele se foi…

Meu histórico ao longo dessa vida junto ao basquete, foi sempre buscar transmitir em palavras aquilo que estava em meu coração, porém hoje está difícil discernir o sentimento predominante nele. Eu sempre soube que um dia isso iria acontecer, mas desta vez eu já estava convencida de que não seria agora, mas como muitos, fui pega de surpresa: Manteguinha foi embora.
A possibilidade já corria as redes sociais na noite de quinta-feira, eu estava prestes a desligar o computador para ir dormir quando me deparei com ela, fui atrás, li os comentários e pensei comigo, ” – não é possível!”. A despedida era eminente, afinal tantas coisas pesavam contra uma decisão de permanência e por momentos me coloquei no lugar dele, imaginando que poderia ser uma decisão difícil, afinal acreditei que  fiuma oportunidade de retornar para sua cidade natal, estar perto da família é algo a ser considerado.
A questão é que todos acreditaram em sua permanência, afinal ela já havia sido anunciada e de repente a renovação estar ameaçada constituía um golpe doloroso demais, mas que acabou por ser deferido e deixando a todos entristecidos e com um sentimento de pesar, pela importância e carinho que a torcida dessa equipe despendia ao atleta. Encerrava-se ali uma jornada de conquistas e descobertas.
André Luiz Brugger de Mello Rodrigues, ou simplesmente Manteguinha, apelido herdado do pai, Manteiga, ex-atleta, chegou a Joinville em julho de 2008. Me lembro até hoje da minha reação quando vi a notícia, eu nem tinha todo esse envolvimento com o esporte e principalmente com a equipe, mas sabia exatamente quem era Manteguinha: o armador do nosso rival Rio Claro nas quartas-de-final do Campeonato Brasileiro daquele ano, de quem ganhamos a vaga para disputar as semi-finais, na casa deles. Para não ser muito cruel, eu não simpatizava nem um pouco com ele e sinceramente não recebi com muita alegria aquela notícia. Pensava comigo o que aquele “serzinho” arrogante faria na nossa equipe. O tempo tratou de responder a minha pergunta e me mostrar que aquilo que me parecia arrogância, na verdade era reserva e timidez.
Seu talento, perícia, liderança conquistaram logo a todos e fez com que eu deixasse para trás minha intransigência de pensar que aqui não era o lugar dele e passei a admirá-lo. Bom, a essa altura minha visão em relação ao basquete começava a se transformar e com isso a minha curiosidade e necessidade de me aproximar do grupo, mas a verdade é que de todos Manteguinha foi o que levou mais tempo para assimilar a minha forma peculiar de lidar e tratar o basquete como um todo, o que lógico, acabou tornando-se um desafio para mim, porém, praticamente inatingível pois mais importante do que conhecer e ser conhecida era manter o respeito e se ele me queria longe, assim eu ficaria.
A questão é que, sua forma de agir nada tinha a ver com a minha pessoa e sim com a sua personalidade reservada. Manteguinha era imponente, raçudo, destemido apenas dentro das 4 linhas e durante os 40 minutos de jogo, tão logo soava o apito final e o famoso círculo no centro da quadra, ele desaparecia no meio da multidão em direção ao vestiário. A questão é que mesmo sendo avesso a exposição, as pessoas cada vez gostavam mais dele, pois o que ele fazia na quadra era tão incrível que compensava ficar sem uma foto ou autógrafo.
Ao longo dessa jornada eu passei a enxergar Manteguinha de uma forma bem diferente daquela inicial. E pode até ser presunção minha, mas sentia um vínculo imaginário em relação a ele, algo que não sei explicar, mas que credito ao fato de termos nascido com apenas 3 dias de diferença, no mesmo ano e sermos do mesmo signo (apesar de não leviar isso muito a sério)  e que apesar de termos nascido em estados bem distintos poderíamos ter sido colegas de colégio, curtido as mesmas coisas, essas coisas que cada geração tem como marca, além de termos como característica comum a timidez. Isso de alguma maneira me ajudava a ver o que um sorriso ou uma expressão de seu rosto diziam, não posso afirmar que sempre interpretei certo, mas quero crer que me colocando em seu lugar compreendia o sentido. Digo isso porque cada atleta de nossa equipe tem uma forma de reagir a determinadas situações e ele não fazia o tipo “explosivo”, vez ou outra talvez, mas na maior parte do tempo eram gestos e expressos que traduziam o que provavelmente estava passando por sua cabeça.
De alguma forma eu posso afirmar que a cidade mudou Manteguinha um pouco. Ao longo das temporadas ele foi se soltando e buscando se integrar mais a cidade, a torcida e eu acredito que isso foi um processo natural de sentir-se seguro e eu só lamento dizer que de todos ele foi, apesar de ter permanecido um bom tempo na cidade, o que tive menos contato, o que troquei pouquíssimas palavras e que apesar disso tem coisas boas para me lembrar e no final é isso que fica, que importa, grandes lances, grandes atuações, emoções e alegrias oferecidas. Eu, assim como toda a torcida, guardaremos com carinho todos esses momentos, eles fazem parte da história do nosso basquete e ficará a saudade com certeza, mas a vida é assim, às vezes os ciclos se fecham.
Então, só me resta dizer Manteguinha obrigada por sua brilhante passagem por nossa cidade. Obrigada pelas vitórias, pelas conquistas que você ajudou a trazer para a cidade. Obrigada pela paciência, pela dedicação. Te desejo ainda uma longa caminhada pelas quadras da vida, muito sucesso e alegrias, mesmo que isso signifique estar longe de nossos olhos, estarás sempre perto dos nossos corações.  Continue brilhando e seja feliz. 

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