Partida

Hoje, após alguns dias sem contato decide voltar a escrever e nesse momento, antes de pagar minha dívida com meus seguidores, gostaria de falar sobre algo pessoal que me deixou assim, fora do ar por esse período e pensei que talvez escrevendo pudesse digerir melhor. O câncer levou meu primo e não é a primeira vez que ele surge na minha vida. Em 98 levou um amigo, em 2000 meu avô. É como estar acostumada a uma perversa rotina de sofrimento e deteriorização, porém é difícil se acostumar a perder pessoas queridas.
Era sábado, tinha saído do jogo, estava jantando bem descontraída com a minha mãe, quando seu celular tocou; era meu irmão dando a notícia. Perdemos o apetite e ficamos tentando encontrar um jeito de ir até o velório. O desespero tomou conta, já era muito tarde e o local do velório muito longe, sem carro, sem ônibus só chegaríamos lá de táxi. Fomos caminhando até em casa e então decidi que mesmo trabalhando no dia seguinte, sairia, pegaríamos um taxi e estaríamos lá.
Mal dormi a noite na triste expectativa de estar lá com minha família, que já não via a cerca de um ano. O coração acelerou quando avistei a bela igreja da comunidade luterana no Rio da Prata, a mesma aonde um ano e meio atrás meu primo se casou. Entramos e quando avistei o caixão uma série de lembranças invadiu a minha mente. Ao me aproximar e ver meu primo repousando em seu descanso eterno, sem dor, sereno, magro e pálido, uma a uma as lágrimas foram se formando e deslizando por minha face.
Fui até meus tios, depois os avós maternos, e então meus primos, que choravam copiosamente ao lado do caixão. O mais novo ao me ver comentou que conseguira mostrar no dia anterior o que criara para ele: um perfil no Orkut com fotos e mensagens de parentes e amigos lhe desejando melhoras, uma delas era minha. Abracei minha avó paterna e então o golpe foi maior, ouvi-la dizer no auge de seus 87 anos, “perdemos nosso Luiz Paulo” foi muito doloroso. Fui por fim a esposa dele.
Olhando a minha volta parei por um momento e fiquei sem saber o que dizer. Nada aplaca a dor. O que dizer a esposa, com quem ele tinha tantos planos, estava construindo uma bela vida juntos em outra cidade. O que dizer aos pais que perderam seu primogênito, aos irmãos para quem ele era um exemplo uma referencia. O que dizer aos avos, afinal não é a seqüência natural das coisas.
Pai ou avo nenhum deveria ter que enterrar um filho, um neto, sei que é clichê, mas muito real pois é muito difícil assimilar a perda de alguém tão jovem e cheio de vida.Você se sente impotente diante de tanta dor, diante de rostos inconformados e lágrimas que não param de verter dos olhos. Porém, nesse caso, o que consola é que o sofrimento provocado pela doença finalmente terminou e em enfim meu querido primo pode descansar.
Não éramos muito próximos, diria que a vida sempre nos  colocou em caminhos diferentes, porém o carinho, o respeito e a administração sempre foi muito presente, principalmente nas memoráveis festas na casa de minha avó paterna. O que me alegra é saber que no momento mais importante de sua vida eu estava lá: seu casamento! Luiz Paulo e Simone foram para mim um exemplo, uma força para continuar acreditando no amor. E até o último instante  vi esse amor presente nos olhos sofridos de Simone que acompanhou de perto toda dor e sofrimento. Em seus braços ele partiu.
De todos os primos, posso dizer que ele era minha versão masculina, mas bem melhorada. E talvez por isso seu falecimento tenha mexido tanto comigo, apesar de que perder alguém com laços de sangue, mesmo que não seja tão próximo sempre mexe. Então, do meu jeito só queria registrar a minha homenagem ao meu primo Luiz Paulo, rapaz inteligente, esforçado, que dedicou sua vida a família e a igreja, que sempre respeitou a todos a sua volta e que agora não está mais entre nós. Descanse em paz primo e que ele possa consolar e dar forças a todos de minha família e a todos que o conhecia e lhe desejaram força até o último momento de sua vida.

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