A despedida

Um dia Espiga me disse, “devo ter mais anos de carreira do que você de vida!” Realmente foram 27 anos dedicados a prática do basquete e eu era muito jovem para se quer saber o que ele era, quanto mais vê-lo iniciar sua carreira. Mas na passagem dos anos quis a vida que a gente se conhecesse e hoje pudesse compartilhar com ele e todos os presentes no ginásio sua despedida.
Ainda está em mim todos os sentimentos que me envolveram durante o jogo e a grande certeza que ficou é que vai levar um tempo para nos acostumarmos com a ausência de Espiga na quadra. Porém, apesar de saber que esse evento era o ponto final de uma carreira cheia de vitórias, aprendizado e histórias para contar, nada me tira o entendimento que não houve coisa melhor do que ter participado desse grandioso evento.
A ansiedade de devia tomar mentes e corações para mim começou muito cedo, precisamente as 3h da manhã quando acordei para viajar a Curitiba, aonde assistiria minha aula mensal. Passei o dia esperando pelo momento de entrar no ginásio. Falei sobre isso durante a aula, no almoço, não havia nada que pudesse ocupar minha cabeça de modo tal a bloquear esses pensamentos.
As horas passavam e mais meu coração enlouquecia, sabia que a cada minuto aquele momento está mais próximo, entretanto o caminho a percorrer ainda era longo, mas enquanto estava no ônibus, por telefone minha mãe me atualizava dos acontecimentos, contando sobre quem havia chegado, quem havia falado com ela ou até perguntado por mim e eu presa dentro de um ônibus trafegando em algum lugar entre o Paraná e Santa Catarina.
Aos tropeços desembarquei do ônibus tão logo ele estacionou na rodoviária da cidade, corri para o táxi e mesmo tendo a idéia de quanto tempo levaria para chegar ao ginásio e que ainda estava no horário, não me cansava de consultar o relógio, eu só queria voltar para casa.
Subi a escadaria da arquibancada correndo, a adrenalina estava a mil e quando alcancei meu lugar foi como chegar a um solo sagrado, foi só ali que me dei conta do quanto era maravilhoso sentir tudo aquilo outra vez, mesmo sabendo que jogos oficiais e competitivos ainda vão demorar um tempo para acontecer e que um aperitivo desses só aumenta a saudade e a ansiedade, ainda assim faria tudo outra vez.
Tudo estava preparado, camisetas personalizadas, ansiedade nos rostos numa espera que parecia não ter fim, então foram anunciados os integrantes do time de amigos. De alguma forma a emoção me capturou, apenas por ver antigos ídolos de nossa torcida novamente em quadra, em nossa terra. Por momentos me reportei a meados de 97, 98 quando meu amor pelo basquete teve início.
Foi então que nossos guerreiros entraram em quadra, quando a garganta embargada de lágrimas, o rosto banhado eu mal conseguia bater palmas, gritar menos ainda, era simplesmente inexplicável a emoção que eu estava sentindo, a vontade era saltar a grade e abraçar cada um deles só para dizer o quanto estava feliz em vê-los, mas ainda faltava algo.
O suspense perdurou por alguns momentos até que ele adentrou a quadra: Espiga, acompanhando de seus preciosos filhos. O ginásio foi tomando de aplausos e era possível sentir que seria muito difícil segurar a emoção. Antes mesmo do jogo começar Espiga foi homenageado pela direção da equipe com uma placa, mais aplausos e mais lágrimas.
Eu chorava ao ver Espiga cumprimentar os amigos de outras épocas, o irmão e o grupo com quem encerrou sua carreira e que agora passará a auxiliar de fora da quadra. Chorava por querer que o jogo começasse logo, mas também queria que demorasse para acabar, para que aquele momento durasse o máximo possível.
E o jogo não poderia ser diferente. Representando a equipe de seus amigos, Espiga corria, inflitrava, marcava, arremessava, cheia de caras e bocas e tiradas cômicas. Estava descontraído e alegre, mas nem imaginava o que ainda o esperava.
Faltando 5 minutos para encerrar o segundo quarto as luzes do ginásio foram apagadas e do alto da cobertura da arquibancada um telão começou a projetar imagens de sua infância, de sua carreira e da vida em família, mescladas com uma narração ao fundo e depoimentos de amigos e familiares. A mensagem escrita e narrada pelo assessor de imprensa levou Espiga as lágrimas e deixou-o quase sem fala.
Mas o jogo continuou e ao término do primeiro tempo ele trocou de camisa. Agora ele jogava do lado que tão bem o conhecíamos e o crescente entedimento que estava acabando foi tomando conta. Faltando pouco mais de 3 minutos para o final da partida Espiga parou, mas não sem antes entregar sua última camisa ao sortudo sócio torcedor sorteado, bem como receber de sua família uma réplica de sua última camisa emoldurada.
Bem, o fim estava realmente próximo e ovacionado Espiga seguiu para o banco, enquanto o jogo era encerrado. No meio da quadra, após o término oficial as duas equipes atiraram Espiga para o alto e sob mais aplausos Espiga permaneceu em quadra, deu entrevista, tirou fotos e em seu semblante a certeza do dever cumprido e que valeu a pena.
Não da para afirmar que entrar no ginásio para assistir um jogo a partir de agora será estranho ou incompleto, entretanto sua presença ainda será uma constante e por isso só gostaria de agradecer por todos esse tempo em nossa cidade, por todo carinho, atenção e cuidado que sempre teve conosco, por ser integro e fiel aos propósitos do grupo e por permitir que fizemos parte de sua vida, mesmo que um pouquinho.
O dia foi dele, mas tenho certeza que quem esteve presente pode sentir um pouco da emoção que ele estava vivendo. Cada um, a sua maneira pode expressar, fosse aplaudindo, o cumprimentando, ou chorando o que estava sentindo naquele momento. E com certeza essa justa homenagem ficará marcada em nossa memória por muito tempo.

Espiga, siga em frente sem medo do que vai encontrar. Não deixe que as palavras que chegarem até você te enfraqueçam, pelo contrário, mantenha sua coragem e sua conduta e use o que vier para se renovar. Teu sucesso é reflexo de suas ações e é por isso que és um espelho. Deus lhe deu talento, mas você construiu com muito esforço seu sucesso e hoje se lhe rendemos tantas homenagens é pelo significado que tua caminhada tem para nossas vidas.  Tua luta e tua postura são nosso pilar e ter contado com sua presença e sua companhia ao longo desses 5 anos foi uma dádiva. Não há preço para o que aprendemos ao seu lado. Sinceridade, carater, perseverança, liderança são apenas algumas das muitas caracteristicas que fazem de você essa pessoa incrível e destemida, que soube reconhecer suas limitações e rumar por outro caminho, que não teve medo de decidir seu momento de parar e por isso nos orgulhamos de tê-lo aqui e lhe admiramos ainda mais.
Seja feliz Espiga e conte sempre com nosso apoio, entusiamo e admiração!

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