Era um domingo chuvoso de março, todos se preparando para o almoço quando algo mudou os planos. Alguém estava em vias de nascer antes do tempo. A chegada era programada para o final da primeira quinzena de abril, mas quis Deus que esse pequeno ser viasse ao mundo naquela data.

Horas se passaram sem que os requisitos básicos para um parto (dilatação e contrações) aparecessem, ainda assim o médico insistia num parto normal. Até que ele finalmente se deu conta de que a criança estava presa e que fora isso que motivara o sangramento, porém a essa altura a bolsa já havia sido rompida e a criança, bem como sua mãe corriam risco.

Aquele momento transformou-se então numa luta contra o tempo. Através de uma cesariana, a criança foi tirada do ventre, roxa, quase sufocada, mas viva. Naquele momento Deus olhou para ela e disse: teu destino nesse mundo é amar, sem reservas, sem preconceitos, amar de todas as formas possíveis e a todos que estiverem a sua volta; amar e espalhar esse amor, fazendo dele seu propósito, mesmo que às vezes ele te machuque, pois amar sempre vale a pena.

Vinte e nove anos se passaram, e a criança que nasceu em 29 de março de 1981, às 15:30h com 50 cm e com pouco mais de 3kg, tem levado a risca esse designo de Deus, ama até demais, se machuca, cai, mas por amor acaba sempre se levantando. É teimosa, persistente, mandona, centralizadora, mas fiel a todos que ama. Essa criança nasceu sob o mesmo signo de Ayrton Senna e Renato Russo, guerreiros, de personalidade forte, que levaram multidões a acreditar em um ideal, que mesmo após tanto tempo longe de nós ainda são lembrados, admirados e queridos. Bem, a criança tornou-se literalmente uma grande mulher e atende pelo nome de Ketty.

Há um ano eu nem pensaria em ter tudo que tenho hoje, tão pouco que voltaria à Joinville tão rápido como fui para fora. Fui para o Beto Carrero pela primeira vez na vida simplesmente para fugir da dor que me consumia ficando em casa, me iludindo por causa de um amor que já tinha sido enterrado e só eu não fora avisada. Nada extraordinário aconteceu naquele dia, além de ter me divertido muito, nenhum presente surpresa, nada, porém, alguns dias depois comecei a receber presentes e mais presentes e eles continuam chegando até hoje. Seja por pessoas que conheço todos os dias, pelos amigos que conquistei, pelo carinho da equipe e da comissão, por uma vitória como a de ontem ou por simplesmente manter algo por tanto tempo, utilizando um dom que Deus me deu, então hoje, quem precisa de presentes e surpresas se tudo que tenho dinheiro nenhum pode comprar?

Confesso, fazer aniversário me deprime e não pelo fato de ficar um ano mais velha, mas por ele trazer a tona sentimentos que machucam e nessa data fico vulnerável a eles. Quem sou no ginásio ou no blog, não reflete diretamente quem sou como pessoa, lá tenho coragem, tenho força, mas fora disso sou comum, sensível e medrosa. Mas a verdade é que será apenas mais um dia como outro qualquer, vou acordar, ir trabalhar, ir para academia, assistir TV e dormir então ele terá passado e a única coisa que permanecerá, será a renovação de meu propósito: amar!