Final Taça Ciser 50 Anos

A bola subiu, era o início da partida mais aguardada do final de semana, a final do Torneio Ciser 50 anos entre nossa equipe e o Flamengo. A velha rivalidade inflamando o ginásio e fazendo o coração acelerar, mas eu estava incrivelmente calma, nem sei explicar como.

Shilton tocou a bola e lançou nas mãos de Audrei, que passou para Manteguinha preparar a jogada, que encerrou nas mãos de Audrei para arremessar e converter os primeiros 3 pontos. Após o adversário disperdiçar o ataque, Audrei foi lá e converteu mais uma dessa vez de 2. Aos 7:46 do primeiro quarto o marcador era de 7 x 0. A torcida delirava, o adversário errava, disperdiçava arremessos atrás de arremessos. Jefferson deu um toco que levantou a galera e Tiago e Shilton brigando no garrafão para garantir os rebotes. Mas aos 5:50 o adversário abriu sua pontuação e começou até a gostar do jogo, nossas cestas então começaram a teimar em não cair.

Jefferson sofreu falta e converteu dois lances, então saiu dando lugar a André. O jogo seguia tenso, corrido, típico de decisão e diante da rivalidade existente e antiga. O adversário ia se aproximando no marcador quando Manteguinha converteu uma cesta de 3. Logo após Espiga entrou no lugar de Manteguinha que pouco tempo depois retornou para o lugar de André. Faltando 30 segundos para o final do primeiro quarto a diferença era de 1 ponto, nosso ataque não foi bem sucedido e zerando o cronômetro, a equipe oponente passou a frente pela primeira vez na partida, nesse momento o placar era de 12 x 13.

A torcida porém não se calava e o segundo quarto começou intenso novamente. Aos 8:50 Manteguinha empatou a partida em 15 x 15. Tiago fez uma cesta de 3 e num passe errado do Flamengo, Audrei converteu outra de 3 pontos. Aos 7:15 o jogo marcava 21 x 20. A equipe adversária começou a usar de violência, até aí discreta para freiar nossa equipe. Aos 5:50 o placar era de 23 x 23. Foi quando, numa recuperação de Manteguinha, foram ele e Tiago tabelando até a bela assistência que possibilitou a Tiago fazer uma enterrada. No lance seguinte, Espiga pegou um rebote, disparou por entre o adversário, infiltrou sozinho e converteu mais 2 pontos. Aos 4:31 o marcador apresentava 27 x 23, o placar final do jogo.

Num ataque nosso, Marcelinho cometeu uma falta anti desportiva em Shilton, os ânimos esquentaram, o jogo foi paralisado e infelizmente não tornou a recomeçar. A discussão perdurou por minutos a fio. A torcida estava perdida, sem saber exatamente o que estava aconteceu. Gritamos e aplaudimos nossa equipe, reverenciamos Shilton, nosso capitão, nosso grande guerreiro, expulso após a confusão e que humildemente, depois de até contra-argumentar sem sucesso, cumpriu a regra e se retirou da quadra. Do outro lado Marcelinho, também expulso, sentou no banco e como uma criança mimada se negou a sair. Mais minutos se passaram até que o árbitro deu por encerrada a partida.

O adversário se retirou de quadra, nosso mestre tomou o microfone para dar uma satisfação a torcida, palavras que peço licença para reproduzir: “Joinville foi campeão do torneio e vai continuar fazendo basquete por muitos anos, com educação esportiva e respeito, recebendo seus oponentes muito bem. Essas são as características do povo de Santa Catarina; essa cidade não pode ser tratada em segundo plano, como em alguns momentos foi tratada nesse torneio. Eu sou carioca, mas Santa Catarina não deve nada a ninguém. O basquete que perdeu com isso, mas não tem problema, vamos ganhar mais à frente”. Diante de tudo que aconteceu e das belas e sábias palavras de nosso mestre gostaria de dizer que:

Joinville não merecia que um torneio que dispendeu tanto tempo e atenção para ser realizado, terminasse dessa forma. Desrepeito com a organização, com a cidade, com a torcida e com as demais equipes. Atitudes como a de hoje, só demonstra a falta de profissionalismo, não adianta nada ter talento, se fica tendo ataques de estrelismo. Que tipo de exemplo um atleta desse pode oferecer? Que tipo de exemplo está dando a seus filhos, que muito provavelmente assistiram tudo pela TV? Vir dizer que aconteceram coisas com seu time desde que chegou é apelação, vi muita gente o cumprimentar e a toda equipe, que inclusive em outros jogos ficou na arquibancada assistindo e não sofreu nenhuma agressão. Rivalidade era sábido que haveria, seria ingenuidade pensar diferente. Lógico que levamos essa final como uma final de campeonato brasileiro, simplesmente porque nossa equipe leva muito a sério tudo que disputa, sem por isso ter que humilhar ou desrespeitar seu oponente, inclusive quando sua preparação técnica não pode ser equiparada. Joinville respeita seus adversários, porque afinal todos estão ali para fazer seu trabalho.

Um desentendimento aconteceu, os ânimos se exaltaram, era desnecessário, era, mas aconteceu. O árbitro tomou uma atitude e nesse momento ele é a lei, cabe acatar. E o desrepeito se estendeu inclusive a ele. É muito medriocridade, fazer o que fez e ainda achar que está com a razão? Ele não percebeu que os maiores prejudicados foram, primeiro ele que, já tendo uma fama não muito boa, agora pode vir a perder de vez sua credibilidade e segundo, sua equipe que perdeu a oportunidade de voltar para a quadra e brigar dignamente pela vitória. O que todo o povo joinvillense presente no ginásio bem como a nossa equipe queriam era jogo. Não importa quem seria vitorioso, teríamos tido o espetáculo que esperamos a semana inteira para assistir.

Agora quanto ao título, não importa se foi no meio ou no final do jogo que nos consagramos campeões, afinal estávamos ganhando não é mesmo? E estávamos jogando bonito. E vê-los ao final, comemorando me trouxe lágrimas aos olhos porque em meu coração eu sabia que era merecido. Em momento algum se negaram a jogar, estavam ali dispostos a continuar, a fazer a alegria de sua amada torcida, continuar o espetáculo que tão magistralmente vinham apresentando. E só de pensar em vocês em quadra essa tarde, em ação, as lágrimas me veem aos olhos novamente.

Nada vai apagar o brilho da atuação de vocês, independente de como aconteceu, e do que disserem, a conquista é merecida, isso não há dúvidas. Vocês nos mostraram um grande basquete, entrosamento, união e respeito, e nada pode mudar o sentimento que essa cidade tem por vocês. Parabéns pela conquista sim, até porque ela foi construida partida por partida ao longo do final de semana, não apenas por hoje. Vocês são merecedores de nosso carinho, admiração e amor, sempre e hoje ainda mais. Garotos, comissão, mestre vocês são o orgulho de nossa cidade! Nada paga o sorriso sincero e espontâneo na face de vocês, a alegria contagiante, o abraço apertado, a alegria de fazer parte dessa família estampada. E eu amo vocês por isso, com toda minha força e todo meu coração! Sigam em frente, de cabeça erguida, há muito trabalho para ser feito ainda. Apenas começamos…





Fotos de Jackson Nessler!