Incoerência?

Ao longo de todo esse tempo próximo do basquete fiz algumas coisas, deixei de fazer outras, me arrependi, mas apenas do que não fiz, pois o que executei sempre me trouxe a alegria de viver um momento inigualável, me permitiu conhecer um pouco mais de mim mesma e entender que as vezes eu mesma me coloco limites que não condizem com a minha capacidade. Prova disso foi o tempo que passei achando que nunca viveria o que tenho vivido (vir a um treino, cumprimentá-los na quadra, encontrá-los em outros ambientes e ser reconhecida) criei barreiras, mesmo que inconscientes para não fazer o que eu queria.
O tempo passou e quando olho para trás as vezes até sinto falta de quem eu era, vivia segura no meu casulo, não corria riscos, porém  são os riscos, os desafios que moldam nossa personalidade e nos transformam em seres capazes de pensar e tomar nossas próprias decisões. Arriscar não é fácil, tão pouco seguro, confortável, mas na grande maioria das vezes é necessário, a não ser que gostamos da acomodação e do conforto, eu particularmente aprendi que gosto de ser desafiada e gosto de testar meus limites, lógico sempre de forma calculada para não dar um passo maior do que a perna, mas sempre com um pensamento positivo de que se fui desafiada é porque tinha as qualidades necessárias para aquela situação.
O basquete me ofereceu essa confiança interior, simplesmente porque não foram poucas as vezes que os vi se superarem, não foram poucas as vezes que os vi sofrerem ofensas e críticas destrutivas e ainda assim eles ergueram a cabeça e mostram que são feitos de muita raça, disposição e talento. Humildades não creditam a si próprios os feitos individuais de um resultado positivo, tão pouco culpam uns aos outros quando não lhes é favorável.
Eu estava pensando nisso na última quinta quando fui ao treino e da arquibancada fiquei lembrando de alguns momentos passados no ginásio, os últimos jogos, vitórias e derrotas que desenharam a situação que estamos vivenciando, foi então que me lembrei de uma situação há alguns jogos atrás. Era a partida contra o Limeira, o jogo estava nervoso, truncado e pouco antes de um pedido de tempo vi uma”criatura” descer a arquibancada e manter-se próximo da grade de proteção e pronunciando ofensas e absurdos. Logo em seguida, prof. Bial pediu tempo e o homem inclinou-se próximo a grade e continuou seu discurso ofensivo.
Fiquei observando aquela cena incrédula. O sangue começou a ferver dentro das minhas veias. Olhei para minha mãe sentada ao meu lado e comentei que se ele não parece de falar eu arremessaria meu sapato nele. Como era previsível ele continuou e eu estava cega de raiva, nem ouvi o que ele dizia, apenas impulsivamente bradei para que sumisse literalmente dali e que se não estava satisfeito que fizesse melhor. Sem dizer palavra ele subiu a arquibancada e depois sumiu e voltei ao normal quando vi alguns olhos atônitos vindos do banco.
No rápido espaço de tempo entre meu “surto” de raiva e os olhares eu me transformei. Minha fúria naquela hora poderia ser comparada, sem exageros, a uma leoa defendendo seus filhotes. E tal comportamento voraz não é do meu feitio se não fosse pelo fato de estar mexendo com pessoas de quem tanto gosto. Mas confesso, quando senti alguns olhares em direção a situação, me envergonhei, afinal, não é um tipo de comportamento que eu defenda, porém alguém precisava calar a boca do sujeito.
Se não bastasse aquele episódio vi outro ainda mais escabroso. Duas “torcedoras” penduradas na grade atrás do banco pedindo autógrafos e querendo tiras fotos no meio do intervalo técnico. Sim, foi exatamente  isso mesmo que vocês leram, agora imaginem a minha indignação a ver tão cena pavorosa e trouxe a minha mente a seguinte pergunta: até onde pode ir a falta de consideração das pessoas e desrespeito para com os atletas durante a partida? Num intervalo muito curto de tempo foram duas situações opostas, entretanto todas levam para a mesma direção: desrespeito.
Vamos combinar que ir para o ginásio chutar é muito fácil, difícil é oferecer uma palavra de consolo, incentivo quando as coisas não vão bem, sofrer junto, se colocar no lugar de quem está na quadra. Eu vivo isso nos quase 2 anos que acompanho de perto a equipe, passando as melhores horas do meu dia no ginásio. Isso, para mim, já é uma ofensa sério. Agora, não conseguir discernir o momento apropriado para tietar, não saber o nome dos jogadores, preocupar-se apenas com aquela recordação para mim é ainda mais constrangedor. E eu pergunto : no final o que realmente representa aquela recordação? Será que no final das contas o ponto alto do evento é fotos e autógrafos? Eu sempre pensei que era o enfrentamento de duas equipes na quadra num verdadeiro espetáculo de basquete… mas talvez a errada seja eu…
Eu sei que não existem regras para se torcer ou se amar um esporte e uma equipe, o que sei é que só sou verdadeiramente torcedora quando me empenho para sempre encontrar pensamentos positivos para oferecer e quando me faço presente mesmo estando longe, porque sei que o ato de torcer é motivado por paixão e algumas pessoas são mais extremadas outras nem tanto, não sei como me enquadro nisso, mas sei que amo demais tudo isso e se não posso fazer com que a bola entre em cada arremesso, ou que o rebote cai em nossas mãos, ao menos tenho que permitir que possam sentir de coração que estou aqui por eles.  Já tive todo o tipo de momento ao lado dessa equipe, mas sinto que é nos momentos que acontece uma derrota ou que as coisas não acontecem como fora planejado que consigo extrair do coração o meu melhor.
Assim, se não for para realmente prestigiar, apoiar, vibrar para que perder tempo, sair de casa. Se for para ofender e menosprezar os jogadores da casa, aqueles que representam nossa cidade e trabalham diariamente para nos garantir um grande espetáculo, é melhor guardar sua energia negativa apenas para você. Realmente eu não consigo conceber esse entendimento, talvez se um dia eu entender significa que algo está muito errado comigo. Não aprendi a ser racional com o basquete, mesmo que talvez, em algumas oportunidades fosse útil, simplesmente porque foi o coração que me trouxe aqui.
Eu me orgulho de acreditar nessa equipe e de acompanhar seu trabalho, mesmo quando as coisas não são exatamente boas, me coloco no lugar deles para tentar entender suas dificuldades e os desafios a serem vencidos e eu acho que isso é torcer, é querer sempre o bem, o melhor e até criticar, contanto que seja construtivo e que todas as respostas tenham sido esgotadas, porque o amor tem dessas coisas também, estar alerta e consciente. Mas quero deixar claro nunca me arrependi de nada que senti, escrevi ou demonstrei, porque tudo que sempre fiz sempre foi para o bem e é assim que quero me conservar. Fazer o bem, faz bem! Para mente, para o corpo e para o coração!
Sei que de alguma forma minha vida esta atrelada a esse esporte e a essas pessoas e de uma forma que nem sei explicar. Paira um sentimento de gratidão, de respeito. De dedicação e admiração que torna tudo tão pequeno que me faz querer me empenhar mais, me faz querer fazer sempre mais porque é  tão gratificante fazer o que faço, que vale a pena. E sei que para muitos não quer dizer nada, visto atitudes como citei acima que acontecem sempre, isoladamente é claro, mas acontecem, só que lamento quem não consegue sentir o que sinto, senti o que tudo isso provoca em mim, porque não tem preço. Eu me sinto importante e esse sentimento me move porque não sinto isso, por exemplo, no meu lado profissional e sempre que penso ou os vejo  meu coração se enche de ternura e me emociono porque esse carinho e gratidão transbordam.
Bom, a verdade é que precisava ter esse desabafo, já falei sobre assuntos semelhantes em outras oportunidades e olhando para trás até me admiro por ainda ter o que falar. Acho que no fundo até eu duvidava que pudesse sentir o que sinto, que seria realmente apenas mais uma fase, que logo iria acabar, mas o amor foi crescendo, tomando conta do meu coração e quando percebi estava completamente tomada por ele  e entendi que mesmo que tudo fique para trás, que eu não escreva mais da mesma forma, talvez até com a mesma emoção do início, o sentimento continua aqui, mais forte do que nunca. E o mais importante, vou continuar defendendo-os porque essa é minha missão, é isso que meu coração me diz para fazer, é assim que sou, o que posso fazer?

 

1 thought on “Incoerência?

  1. haha me imaginei nessa cena tbm fala serio né tem gente muito sem noção sera que esse cara achou mesmo que tava ajudando alguem falando tanta besteira??so de ler ja fiquei p da vida nem sei qual seria minha reação se estivesse lá presenciando essa cena.PS to morrendo de saudades n vejo a hora de ir a um jogo novamente

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