Quando penso que aprendi a lidar com o buraco em meu peito, quando acredito que superei tudo que me trouxe até aqui algo acontece e deixa o pensamento distante, num tempo que não me pertence mais. Desde minhas viagens que tudo ficou assim, meio nostálgico. Comentei que tive tempo demais para pensar e por um lado isso torna-se bem ruim, porque lembranças chegam sem avisar e você não tem para onde correr, está longe daquilo que lhe é conhecido, daquilo que pode lhe salvar.
Foi assim principalmente na viagem a Piratuba, mais longa, cansativa, mas em Rio do Sul também tive tempo para pensar, sempre havia um lugar alguma coisa que puxava minha memória, até mesmo Curitiba mexe comigo as vezes. É realmente as vezes estou em lugares que perturbam a minha mente, nem preciso sair de Joinville para isso acontecer e por mais que eu saiba que a melhor forma de superar é enfrentando não consigo evitar de pensar e de certa forma sofrer e o que dói é saber que tudo isso foi provocado por mim mesma por amar e confiar demais e ficar cega. Queria naquela época ter a coragem que tenho hoje, porém eu sei que tive que passar por tudo isso para encontrar na minha vida algo que valesse a pena.
Essa semana foi muito ruim para mim. Não é fácil lidar com tantas cobranças responsabilidades e exposição, mas tudo tem seu preço e esse é o que tenho que pagar para ir mais longe, a questão é que as vezes o corpo não suporta e adoece e o meu chegou ao limite ontem. Ainda estou aprendendo a lidar com algumas situações que não são causadas por mim, mas que acabam me afetando e pela minha posição tudo acaba estourando no meu colo. Há semanas venho tentando ir a um treino e não consigo. Domingo já perdi o jogo e decidi que essa semana, por ser a última de treinos antes do final do ano eu iria de qualquer jeito, mas tudo deu errado. Então ontem, ardendo em febre, derrubada na cama, estourando em dor de cabeça senti mais do que nunca a ausência dos garotos.
Comecei a lembrar com uma saudade esmagadora da última vez que estive lá e não cheguei a compartilhar e foi tão clara a falta de seu bom humor, de sorrir por uma hora inteira sem temer fantasmas rondando meus pensamentos. Do som que retumba dentro da minha cabeça e se espalha por todo meu corpo. A alegria sem tamanho.
O time pode ter mudado muito ou melhor boa parte dela foi renovada, mas algo que não muda é a sensação de bem estar que me domina só de pensar em entrar no ginásio. Foi assim naquele dia e teria sido assim se tivesse conseguido ir ao ginásio ontem, depois de mais duas semanas afastada e será assim enquanto eu viver, porque aqui ainda é o lugar aonde eu não esqueço quem sou. Nem esqueço como cheguei aqui, sou apenas a Ketty um pontinho solitário no meio da arquibancada, no meu da multidão apaixonada que sente e vibra e fala o que quer e que muitas vezes nunca esta satisfeita.
Naquele dia choveu, coisa que foi uma constante nesta semana e chuva sempre me deprime, ainda mais doente, me fazendo lembrar do quanto tenho sido falha e distante. Palavras de quem nada tem a ver o esporte dão conta de que devo parar de viver em função do basquete. Porém não vivo em função, mas tento viver em harmonia para se nas quadras estiver bem para mim também estará, mesmo que o céu esteja desabando sobre a minha cabeça. A verdade é que muitas vezes o que me dá sentido para sair da cama é esse universo quem sem perceber vem me moldando.
Eu confesso já me perguntei tanto porque o basquete sempre gostei de esportes mesmo não tendo talento para nenhum e agora com a pós conhecendo-o cada vez mais sei que de alguma forma nasci para isso, tenho muito a aprender com ele como disciplina, dinamismo, trabalhar sob pressão. Então porque o basquete? Primeiro porque ele tem muito a me ensinar e o segundo não fui eu que o escolhi, mas ele.
Hoje já me senti melhor, voltei ao trabalho e estou tentando normalizar a alimentação, mas está difícil. Percebo hoje que tudo foi ocasionado por uma sucessão de situações estressantes, meu corpo não agüentou e sem minha válvula de escape eu desabo. Basquete e esses garotos são mais do que entretenimento para mim, é amor, é sangue correndo nas veias, é o ar que respiro, quando estou longe tudo fica mais penoso e difícil e a saudade está acabando comigo, pois foram várias as vezes entre ontem e hoje que me peguei chorando por fazer tanto tempo que não consigo trocar uma palavra se quer com eles, é triste demais. Alias estar doente trás a tona tudo que esta guardado bem no fundo do peito, coisas com as quais as vezes reluto em encarar, mas que vez ou outro surgem, assim é a saudade que sinto, muitas pessoas já se cansaram de minhas palavras, mas o sentimento continua aqui e tudo que digo continua sendo mais do que verdadeiro e por um lado isso torna a distância algo bem difícil de tolerar.
Mas bem, falava da minha vida que entre idas e vindas, caminhou e muito bem e o que importa é que aprendi grades lições mesmo as custas de muita dor e mesmo as custas de ter me tornado amarga exigente e descrente no amor. Eu só acredito naquele que age como um bálsamo na minha vida não como o que me enfraquece e essa questão de descrença no amor tem me levado a perceber que a vida que levo, as escolhas que faço talvez me façam ser solitária e talvez eu até goste disso, talvez eu não esteja mais disposta a “pertencer” a alguém, porque me amedronta perder minha liberdade, fazer concessões, porque até aqui o que encontrei pelo caminho não foi algo que valesse a pena. Na minha vida o único amor que me faz abrir mão de qualquer coisa e me faz mover céus e terras é o basquete porque ele é minha identidade e minha face mais alegre, generosa e feliz.
Eu posso não ter escolhido os caminhos pelos quais minha vida caminhou, mas escolho o que levo dele. Hoje mesmo que distante tenho escolhido ser uma fiel e apaixonada protetora do basquete de Joinville e desejo um dia poder me dedicar por inteiro, ou ao menos um pouco mais do que atualmente, já que nesse momento tenho tido a necessidade de ser várias em uma só sem ser a que realmente eu gostaria de ser e sou de verdade: apenas a menina do blog. Me ajudem a voltar a ser…
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