Sensações

Engraçado como algumas coisas acontecem sem perceber na nossa vida e nos afrontam de um jeito que não temos para onde fugir. Me deparei com “Titanic” passando no Telecine numa tarde domingo, sei que muitos acham tosco, porém até tenho o DVD porque gosto pra caramba, mas fazia tempo que não assistia e durante a exibição me vi mergulhar em sentimentos antigos e pensei “Eu acreditava no amor nessa época”, sim porque esse filme já tem 12 anos.
Quando o filme chegou na parte que mais gosto, que é o final, e então acabou eu tinha lágrimas nos olhos, pensei “Caramba, Titanic ainda me faz chorar” e isso me serviu de alerta, a fragilidade anda me rondando outra vez. Sou uma pessoa que não vive sem amor, porém aquele que eu tanto prezava eu já não acredito mais. O amor para mim tem se resumido em Deus, família, trabalho e basquete.
Nem sempre podemos ter tudo, talvez a mim tenha sido destinado fazer o que me cabe da melhor forma e com isso ser bem sucedida, ter crescimento, conhecimento, entretanto sem o amor de um homem, talvez não tenha nascido para amar alguém da forma como sempre sonhei, desde a minha adolescência, da forma como sempre fantasiei e fantasio até hoje. Ainda há outros amores para acreditar, há meu basquete para preencher a lacuna em minha vida tão normal e sem graça. E isso deve me bastar.
Ainda a pouco assisti o final “Um Amor para Recordar”, outro filme ao qual não resisto e lá estava toda dor e ressentimento, toda amargura que foi o estopim para que hoje eu estivesse aqui. Eu mudei muito daquela época, reconheço, mas verdadeiramente já não sei se isso me tornou melhor ou pior, acho que me deixou em pedaços e até hoje luto para me reconstruir, porque no fundo sempre falta uma pequena parte que nada, nem ninguém pode corrigir.
Vez ou outra lembranças e imagens tem invadido minha mente, tem me tirado o ar e atirado meu coração no chão e eu tento ser forte, mas onde estão minhas forças quando o mundo gira ao meu redor em tal velocidade que perco a consciência? Quando tudo parece pouco para aplacar a dor e estou longe daquilo que me é tão fundamental. Se estou compartilhando isso é porque se eu não tivesse sofrido como sofri, não teria encontrado amparo no basquete, eu acompanharia, mas não participaria.
Há mais uma coisa que gostaria de comentar e que mexeu comigo. Vivo sempre as voltas com meu trabalho e responsabilidades e nesse final de semana tive a surpresa de saber que a disciplina seria justamente contabilidade como ferramenta de gestão. O professor queria me mandar embora, mas eu queria estar ali e nem sabia ao certo porque. Ao final da aula de sábado conversei muito com o professor que me fez perceber o quanto ainda sou insegura e incrédula com minhas próprias habilidades.
Ao chegar o encerramento da disciplina no domingo, depois de um feedback emocionante, pedi a palavra e com lágrimas nos olhos agradeci ao professor e a turma como um todo, simplesmente porque a forma como a disciplina foi conduzida e o fascínio que despertou nos colegas me fez sentir valorizada, afinal minha função profissional é gerar e produzir relatórios com os quais estávamos trabalhando em sala.
A curiosidade e o interesse provocado pela matéria nos meus colegas me fez sentir importante pela primeira vez desde que me formei a 7 anos. Pela primeira vez me senti valorizada como profissional por pessoas que pouco entendem do meio. Para quem esta de fora parece fácil ser funcionário público, é só passar num concurso e está garantido, mas a realidade é muito diferente e bastante complicada. E como agravante, na minha profissão errar é crime, dá cadeia, eu diria até que é uma profissão de risco.
As pessoas em geral não levam contador muito a sério, dizem que é o “contador de histórias” o cara que só fica mandando contas para pagar, aí junte isso a um contador público, bem a visão é desastrosa, mas enfim a aula me serviu para lembrar que escolhi isso para minha vida. Talvez não faça isso sempre, mas me fez lembrar que é isso que faço agora e que sou boa no que faço, o tempo pode me tornar ainda melhor. Fazer o que faço é um constante exercício de paciência, auto controle e atenção. É um grande desafio diário.
A aula me fez lembrar de coisas da minha profissão que estavam esquecidas dentro de mim, coisas que gosto muito, apesar de não fazerem parte do meu dia-a-dia, mas que são portas que podem se abrir. Então no final por mais que meu caminho pareça diferente do esporte, esporte é o que amo, contabilidade é o que sei fazer e o que me sustenta, quem sabe um dia eu não consigo unir o útil ao agradável? É isso que me dá forças para continuar caminhando, para continuar acreditando que o que faço não é em vão e que mesmo que não haja alguém para compartilhar minhas vitórias, alguém a quem oferecer meu amor, ainda tenho um universo cheio de possibilidades e pessoas que sabem que o que faço é importante, me todos os sentidos. E assim, não adianta querer separar a minha vida do esporte, porque quem será que eu seria se o esporte não tivesse me trazido por esse caminho e me mostrado tantas possibilidades?

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