Um furacão passou pela minha mente nessa tarde. Viagem marcada, confusão a vista, esse ao menos tem sido o lema das minhas últimas viagens a trabalho. Hoje, apesar de mais simples, não deu outra, confusão. Demora na emissão das passagens, quase perdemos o ônibus esperando o motorista para nos levar a rodoviária. Chegamos em cima do horário, porem o ônibus ainda não havia chegado, alias, levou 45 minutos para ele chegar e assim seguimos viagem finalmente.
Primeira etapa da viagem mais do que conhecida: Jaraguá do Sul. Não me preocupei em apreciá-la, afinal nada havia de novidade. Tomei o livro que uma amiga me emprestou (A Cabana) e me pus a ler. Só que não tardou para meu estomago parar de funcionar e minha cabeça começar a doer, motivo? Comi um cachorro quente na rodoviária de Joinville, pois estava sem almoço e a viagem seria longa, mas comi muito rápido preocupada que o ônibus chegasse a qualquer momento.
Bem, fui obrigada a desistir da leitura para ver se a dor passava e enquanto a dor de cabeça não passava, outra dor resolveu aflorar. Jaraguá do Sul fez parte de um momento de crescimento muito importante na minha vida e foi lá que se viu nascer meu amor pelo basquete. Foram aquelas pessoas que compartilharam comigo minhas conquistas, minhas emoções e de certa forma me incentivaram e me deram força e coragem para abraçar aquela oportunidade.
Ainda faltava estrada para chegar a rodoviária em Jaraguá e eu fiquei curtindo a nostalgia de voltar a essa cidade que acabou me conquistando sem pedir licença e que só passei a dar valor quando perdi. Porém Jaraguá é marcante em minha vida por motivos anteriores a ir trabalhar na prefeitura. Pensando em tudo isso e nos momentos que lá vivi a primeira coisa que me veio a mente foi um dia de setembro ha quase 12 anos, chovia, fazia frio e era um dia triste, porém isso não me impediu de comer muitos picolés e por muito tempo isso foi uma lembrança gostosa e cômica, exceto ontem quando dilacerou meu peito, o dia a que me referi foi o início da história de amor que me trouxe até aqui.
Tive que conviver com a dor de cabeça e a dor em meu peito por tempo demais, tempo suficiente para me odiar por me deixar envolver por aquelas lembranças, mas uma coisa era fato, é hora de enfrentar e é o que estou fazendo agora, me deixando levar pelas lágrimas enquanto cruelmente escuto músicas que não ouço há muito tempo por medo de sentir uma dor que aparece mesmo não as ouvindo. Não dá para fugir da minha história afinal, mas sei que talvez se parar de me preocupar em ouvir essas músicas, por medo das lembranças, ouví-las torne-se algo normal e não haja mais motivos para elas serem especiais ou marcantes.
Eu perdi um amor, perdi um amigo, entretanto ganhei muitos amores e muitos amigos, que acreditam e confiam em mim, não me julgam, não me desprezam, são sinceros e honestos comigo, coisa que a pessoa que mais prezava para um relacionamento não soube ser. Foi assim, na madrugada de 13 de junho que ele fez meu mundo desabar, jogando por terra tudo que eu tinha, me oferecendo o sonho que sempre desejei para depois me atirar para longe de sua vida e agora fazer de conta que eu nem existo.
Mas Deus foi muito bom comigo, me devolveu a vida através do basquete e acho que nunca nesses meses falei tão abertamente sobre isso, mas talvez fosse o momento de libertar essa dor que as vezes me consome, como tem feito durante essa viagem, me trazendo tantas lembranças e sensações que eu já vivi, que sinto falta, mas que machucam ao invés de me deixarem feliz.
Mas bem, eu vou sobreviver, porque amanhã é um novo dia e o que importa de tudo isso é que o basquete e as pessoas que conheci através dele não são um sonho e estão comigo no que eu precisar. Me acompanham mesmo quando estou distante, torcem por mim e me querem bem. E tenho muito mais motivos para estar feliz do que triste, estou viajando, conhecendo uma cidade nova, me aperfeiçoando para fazer melhor o meu trabalho e terei pessoas me esperando amanhã quando voltar para casa.
E nem tudo são lembranças ruins aqui. Nossa passagem por Ituporanga, apesar de cansativa foi proveitosa e muito confortável, uma bela cidade, assim como Pomerode, Timbó, Rio dos Cedros que apenas passamos e que apesar de ser a noite ainda era possível contemplar sua beleza e sua tranqüilidade. Aconchegante, calma, transmitindo uma sensação de paz e leveza, tudo de melhor para tirar um pouco desse nosso stress.
E também tive a oportunidade de mais uma vez contar essa minha história de amor com o basquete as minhas colegas de trabalho que viajam comigo, o ambiente da prefeitura não nos possibilita esse tipo de interação e hoje então pude revelar e explicar esse meu amor, carinho, admiração e descobrir que o basquete contagia mesmo aqueles que não estão próximos ao esporte em si e podiam perceber o quanto me apeguei a tudo isso. A parte interessante dessa conversa foi ser questionada se hoje o basquete ainda era uma fuga, um plano B, uma defesa e eu poder responder que não, que hoje é algo que faz parte de mim, é um prazer, um trabalho, mesmo que amanhã acabe.
O compromisso que venho firmando sempre é de que enquanto existir o basquete de Joinville existirá o coração em quadra, pois é para isso que ele existe, para homenagear, enaltecer, apoiar e engrandecer esse projeto que caminha com calma, dentro de suas possibilidades para tornar-se consistente e duradouro. Boa parte da minha vida move-se em função desse esporte, me alimenta, me motiva, é devido a ela que reaprendi a sorrir e que principalmente me redescobri enquanto pessoa, redescobri o prazer de dividir minhas palavras e minhas emoções.
Tenho consciência que nem todos ainda, (não falo do grupo em si) enxergam essa minha verdade, não enxergam a troca, a ajuda mutua, tão pouco a sinceridade, como se tudo fosse baseado em interesses e não vou dizer que isso não me assusta, que inclusive possam vir outras pessoas e simplesmente não me entenderem, porém preciso e vou continuar acreditando.
As pessoas também vão mudando e eu tento me acostumar com essas dinâmicas da equipe, a toda temporada começar de novo, plantando novas sementes, desejando que elas sejam regadas e possam germinar novamente, ou seja, estarei sempre desejando que todos consigam me aceitar e me entender com facilidade, possam sem muitas palavras enxergar em mim o que realmente sou e o que quero ser sempre para essa equipe: um escudo, uma fortaleza, um apoio, aquilo que sem esforços todos sempre foram para mim.
O que desejo é simples: a mesma transparência e confiança de sempre, para me garantir a certeza de que não estou amando em vão e que meu trabalho ainda tem muito por realizar. Não peço nada em troca não, apenas compreensão, o resto é uma conseqüência da imagem que eu passo, resta saber se essa imagem reflete o que realmente sou. Busco dia após dia revelar minha obscuridade, permitindo que as pessoas entendam e conheçam os motivos que me trouxeram até aqui e que fizeram do esporte e dessas pessoas o significado da minha vida, a minha descoberta, o meu futuro.
Bem, desculpem o texto longo, filosofei demais hoje e acho que está na hora de ir dormir, mas garanto, sigo com o coração mais leve, ainda mais porque nossos garotos terão uma nova oportunidade de aprimoramento. Para quem não viu semana que vem eles estarão viajando para o México, para disputar um novo torneio, o que só vem a lhes agregar bagagem e conhecimento para crescerem enquanto profissionais e pessoas, transferindo também a nós novas formas de enxergar esse contagiante esporte da bola laranja. Boa sorte a eles, que esse momento seja realmente proveitoso e agregador. A mim só resta guardar mais um pouco de saudade no peito e desejar que logo estejam de volta pois já estou longe demais desses garotos, estou até falando bobagens…
Ketty, não poderia passar por aqui sem deixar um comentário, parabéns pelo Blog, aliás, acho que não teria nome mais apropriado, pois o que sentimos ao você comentar sobre o basquete realmente parece estar em quadra realmente seu coração, dando a impressão que pulsa ao passar da bola, a cada toque, a cada cesta…
Parabêns pela iniciativa, que Deus continue te derramando inspiração. E quanto as suas confissões, que sinta saudade mesmo, de tudo, de tudo que foi bom, o demais, deixas p trás, traga consigo só o que ficou de bom, um dia, sentiras saudades do basquete também, e irás até chorar, mas por lembrar de momentos bons, pelo amor que sentiu a cada jogo, a cada decisão… já dizia uma música de Nelsinho Correa: ” Só se tem saudades do que é bom, se chorei de saudades não foi por fraquesa, foi por que amei”
Olha, já havia comentado dos seus textos virarem livro né e após ler, reafirmo mais ainda.
Bjs