Responsabilidade…

A partir do momento que você assume um sentimento pelo esporte, não importa quem está na quadra, você não quer perder a oportunidade de aprender um pouco mais sobre ele, tão pouco prestigiar uma partida que é a forma mais expressiva de dar notoriedade a ele. É assim que me sinto acompanhando as finais do NBB. Duas grandes equipes em quadra e os três últimos jogos muito distintos, permitindo entender, admirar.
O fator psicológico tem sido um grande vilão nessas partidas, inclusive o técnico da seleção brasileira citou isso, ou seja, se a falta de controle emocional chamou atenção até do técnico significa que há muito por fazer nesse setor. Ele é sim o grande adversário de todos os atletas em quadra, não importa a camisa que vista, eles nunca entram em quadra da mesma forma e nenhum jogo será igual, e quando o nervosismo toma conta, há momentos que simplesmente nada funciona e pior do que isso é quando esse nervosismo se transforma em descontrole, em provocação e agressão. As mudanças podem ser percebidas inclusive de um quarto para outro.
A tensão que fica na quadra, vem bem de encontro com o que falei agora, o nervosismo tira a atenção e faz com que belos lances acabem não sendo definidos, ou interrompidos com certa violência, porém basquete é um jogo de contato e temos ciência de que um lance ou outro poderá vir a ser mais “duro”. Entretanto, entra a questão do controle, de não se deixar levar pela cabeça quente, é justamente por isso que digo que não sirvo para esse tipo de esporte, porque não tenho controle emocional suficiente para manter a cabeça fria.
Independente disso, quem ama o basquete, mesmo não torcendo para as equipes que se encontram na partida acaba se envolvendo nos lances e sentindo todo esse nervosismo e angustia de quem está lá, acompanhando tudo de perto. Verdadeiramente não é necessário ser apaixonado pelas equipes, basta ser apaixonado pelo basquete. E agora, eu entendo isso muito bem, porque acompanhando essas finais me pego sentindo o coração acelerar, porque é justamente isso que quem gosta de basquete quer, a emoção, a adrenalina de uma decisão. Você vibra com uma bela assistência, com um rebote quase perdido, com uma recuperação, uma enterrada, não tem jeito porque isso é basquete.
Quando você se deixa envolver pela energia que o basquete proporciona não há mais para onde correr, fugir, você já está envolvido e isso simplesmente faz parte da sua vida. Então, quando situações como da partida 3 da final do NBB acontecem você começa a repensar muitas coisas em relação ao esporte e sobre os envolvidos. O jogo estava sensacional, pegado, de tirar fôlego e a prova disso foi o resultado, apenas um ponto de diferença, porém o que se viu depois apagou um pouco esse brilho.
Se você gosta do esporte antes de mais nada ao entrar em um ginásio deve ter respeito pelas pessoas, principalmente por aquelas que estão indo assistir ao jogo e ainda mais as que estão em quadra fazendo o seu trabalho. Se você quer arrumar confusão, seu lugar não é no meio de pessoas que só querem ter um momento de descontração. Se você é um atleta faça o seu trabalho, não adianta apenas ter talento se não sabe dar exemplo. Pode haver rivalidade, porém que ela fique na quadra, durante os 40 minutos do jogo e não passe disso porque no final todos somos apenas seres humanos.
Passei alguns dias repensando e analisando as imagens que vi, lendo depoimentos, notícias, não queria ser injusta e a conclusão a que chego é que isso não pode acontecer novamente, alias, nem deveria ter acontecido, foi amadorismo (mas isso é outra história). Basquete é um jogo de estratégia, de contato, de inteligência e controle emocional e uma torcida segue aquilo que seu time mostra. Ironicamente a história foi um pouco diferente desta vez, mas mostrou que a violência gera violência.
Falta de estrutura, organização, segurança; crianças, idosos, mulheres, homens de todas as idades dedicando seu tempo para incentivar sua equipe, vibrar com o esporte quem há tanto vem lutando para recuperar seu espaço e seu valor, buscando entretenimento, agredidas por pseudo torcedores, mais interessados em criar confusão do que acompanhar o basquete, provocando, ofendendo e agredindo profissionais do basquete, já exaltados, com o sangue fervendo, uma combinação bombástica. O resultado: feridos, tumulto, e uma imagem que ninguém gostaria de vivenciar. Um policiamento despreparado para conter o tumulto e poderia ser pior, ah sim, poderia, atletas profissionais aceitando as provocações e revidando, colocando-se numa posição ridícula de perseguir jovens inconseqüentes sem se medir a proporção de seus atos tão pouco de observar quem estava a sua volta, verdadeiramente agindo como animais.
O pior de tudo isso foi perceber que no final ainda havia pessoas endossando a atitude dos atletas exaltados, creditando o fato de que só agiram assim por legítima defesa. E eu me pergunto: por quanto tempo as pessoas se deixarão cegar pela idolatria e simplesmente vão validar toda e qualquer atitude dessas pessoas como se as mesmas não errassem, como se sempre fossem vítimas de perseguições, sempre inocentes e indefesos. É muita hipocrisia achar que a denúncia aos atletas envolvidos foi excessiva, se eles vestissem qualquer outro uniforme muitos estariam condenando-os mesmo sem saber o que havia ocorrido.
É preciso que haja justiça sim, igualitária, justa. Que todos venham a pagar pelas suas atitudes irresponsáveis e pelos seus erros. Todo ser humano que se dispõe a encarar o desafio de defender algo, como um atleta, tem o entendimento da pressão que irá sofrer, das provocações, das ofensas, e o mais importante, que a partir do momento que você cria projeção, você passa a ser analisado, avaliado e copiado, então por pior que tenha sido a atitude dos “torcedores” não lhes cabia devolver a agressão, se defender sim, retribuir não.
A punição é o melhor modo de reprovar essa atitude e colocar cada um no seu lugar. Concordo inclusive que se os agressores que iniciaram a confusão fossem identificados que também fossem punidos, entretanto não fechemos os olhos para o fato em si. Que todos possam analisar friamente e perceber a gravidade. Se desejamos um basquete forte, respeitado e em constante desenvolvimento, devemos aprender com nossos erros e não atirá-los para baixo do tapete. A primeira medida acredito já ter sido tomada, e quero continuar acreditando nela, não há espaço para paternalismo, tão pouco exceções.
Mas bem, discorri sobre esse fato, em primeiro lugar porque acredito que ele não deva ser esquecido, apenas superado, segundo porque acredito que uma das equipes em quadra hoje não o superou e ao jogar o jogo de suas vidas entrou em quadra com o nervosismo aflorando, resultado: foram praticamente humilhados em quadra, dando a equipe da casa não apenas a chance de levar o título, mas de sentirem-se superiores que é ainda pior, pois essa vitória tenho certeza, teve um sabor redobrado e para nós que apenas acompanhamos tudo isso de longe, mas adoramos basquete, fica a certeza de que vai se dar ainda mais poder a quem não sabe lidar com ele.

1 thought on “Responsabilidade…

  1. Concordo,concordo,concordo!!!!!!!!É isso aí e tbm espero que a justiça seja feita pra ambos os lados!!!

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