Não dá pra não pensar em vocês…

Caminhar pela cidade sem a perspectiva da surpresa, do inesperado faz tudo ficar tão monôtono e ao mesmo tempo doloroso. Caminhar e saber que não vou esbarrar em qualquer um que seja, que vou passar pelo ginásio e não vou ouvir suas vozes, que não vai adiantar desculpas para ficar até as 17h na rua só para dar uma passadinha no treino, pois simplesmente vocês não estão lá é triste e talvez minha ausência por uma semana tenha evidenciado o quanto estava me custando aceitar que mais uma temporada se foi.
Há uma semana, nesse horário eu estava sozinha, num quarto de hotel em Curitiba, tentando aceitar que talvez as coisas não aconteceriam como havíamos planejado, entretanto eu queria manter acesa a esperança, não apenas pelos planos, ou pelo campeonato, mas por mim mesma, eu não estava condicionada a me despedir, não me dei conta de que o tempo havia passado tão rápido.
Tinha saído do trabalho correndo para resolver umas coisas na cidade antes de embarcar, quase perdi o ônibus e ainda levei mais de duas horas para chegar em Curitiba. Estava muito frio e eu ansiosa e faminta. Corri para o hotel, depois para o shopping, meu tempo era restrito. A surpresa desagradável foi levar 30 minutos para conseguir uma conexão com internet, sabendo que o jogo já estava acontecendo.
Dormi mal, mas ainda assim empolgada para o primeiro dia de aula. Não tardou para as primeiras certezas, havia poucas mulheres na turma e eu era a única cuja a formação acadêmica não era educação física. Para minha satisfação, me senti muito acolhida e envolvida no grupo, mas não o suficiente para abrir mão de acompanhar o terceiro jogo, que viria a ser o último.
Foi difícil demais saber que o jogo estava sendo televisionado e só eu não podia vê-lo. A internet estava me deixando maluca e eu estava nervosa e ansiosa demais para conseguir parar na frente do micro. Eu não queria matar a chama dentro de mim, eu queria acreditar que ainda os veria jogando em casa, ao menos mais uma vez, que teria um treino para vê-los e abraçá-los, para desejar boa sorte, que os sentiria perto de mim, nem que fosse apenas mais uma vez.
Quando o jogo enfim terminou, eu me enfiei na cama, morrendo de frio e chorando imensamente infeliz e sozinha. E ficou a música tocando, o som dos aviões no céu, pessoas no corredor do hotel e a certeza de que eu não estava sonhando. Tantas coisas passaram pela minha mente, mas nada aplacava a dor que eu estava sentindo, a dor de voltar pra casa e saber que vocês não estariam lá.
Tive mais um dia de aula incrível e de repente pude começar a enxergar minha paixão por um outro ângulo, poder perceber que eu sabia mais sobre tudo aquilo do que muitos que dividiam a sala comigo, entre tantos profissionais do esporte, eu era a única que tinha propriedade para falar de basquete, ao menos o atual e sem que entrasse na discussão regras e fundamentos.
Embarquei de volta para casa exausta, mas certa de que fizera a coisa certa ao encarar esse desafio, ao menos estava tendo oportunidade de conhecer pessoas e vivências diferentes, porém voltar significava ter que encarar que todos os planos feitos para a semana que estava iniciando estava sendo parcialmente desfeitos.
A semana foi correria e emoção pura, conheci pessoalmente alguém que já fazia parte da minha vida por tanto tempo e que nunca tinha dado um abraço e por isso acabei buscando me afastar de tristeza e dor, queria aproveitar um momento único que o próprio basquete estava me proporcionando. Foi sem dúvida uma experiência ímpar conhecer Letícia, amiga e irmã de coração, confidente há tanto tempo, queria lhe dar a atenção que merecia, mas isso é outra história. O que me cabe discorrer desse fato no momento foi uma oportunidade que tive por causa da sua vinda a Joinville.
Harlem Globetrotters se apresentariam na noite de terça na cidade, porém a tarde havia uma programação com as crianças da escolinha da Brascola e Letícia nos convidou para acompanhá-la, quase que não fui, mas hoje sei que realmente era para eu estar lá. Primeiro porque voltei ao palco onde se deu início a minha paixão por basquete, Ginásio do Sesi, hoje integrado ao Campus da Univille,  Caldeirão da ABAJ que por sinal continuava do jeito que me lembrava dele, espantosamente pude me enxergar no topo de uma das arquibancadas, onde costumava ficar com minha família para acompanhar os jogos.
Segundo, ao sentar na arquibancada, enquanto os convidados não entravam em quadra, foi notar a presença de alguns de nossos jogadores, além daqueles diretamente envolvidos com o projeto das escolinhas, quando me dei conta meus olhos já estavam marejados. Aproveitei o evento, mas tão logo ele se encerrou eu não resisti e fui cumprimentá-los porque tudo de repente ficou pequeno pelo simples fato de estar próxima a eles novamente e isso só aconteceu porque eu não esperava vê-los, não contava com isso e simplesmente aconteceu e foi maravilhoso!
Foi quando todas as festividades passaram e que voltei a rotina que  a saudade começando a esmagar o coração e alcancei o entendimento de que tudo me foi arrancado prematuramente, que eu não estava preparada para ficar longe, nem sentir medo outra vez, tão cedo. Era o início das incertezas, da insegurança e da distância. E me afastei de repente porque estava sendo difícil lidar com tudo isso, pensar me trazia lembranças e as lembranças provocavam dor, principalmente pensamentos relacionados aos motivos que tornaram o basquete a coisa mais importante na minha vida.
Achei realmente que seria mais fácil, afinal já havia passado por isso uma vez, porém  essa temporada foi diferente, estive com eles desde a primeira semana de treinos até a última e passar uma temporada inteira ao lado desse grupo me permitiu conhecê-los um pouco mais e admirá-los. Momentos bons, momentos ruins, mas meu prazer continuava a mesmo, estar ao lado deles e lhes dando força, incentivo, precisava que não desacreditassem, nem que duvidassem da minha fidelidade. Talvez tudo que aconteceu nesse temporada serviu para consolidar o meu envolvimento, o meu interesse e mostrasse que nasci realmente para amá-los.
Foi uma temporada de testes, para todos. Testar limites, adversidades, obstáculos. Testar confiança, credibilidade. Foi um teste pra mim, para que eu mesma conhecesse meus limites e pudesse ver até onde chegaria por essa equipe e por meu amor a ela, até onde teria coragem de manter minha palavra e meu apoio e muitos momentos me provaram que cumpri o que prometi, mesmo que por vezes apenas observasse, sem dizer palavras, sem manifestações ferrenhas em defesa, sem discutir, porém eu estava aqui e sei que posso sentir hoje em meu coração que eles enxergam a minha verdade e é isso que me dá forças para continuar persistindo.
Sei que nem tudo aconteceu como fora desejado, planejado, mas repito que vinha dizendo anteriormente, em tudo na vida às vezes é necessário um recuo, até para se preservar, para não se ferir. Às vezes é preciso olhar as coisas de fora para entender o que se passa e se nossa passagem pelo NBB terminou antes da hora, diria que talvez essa seja a grande lição, nem sempre podemos ter tudo, tão pouco ter no momento que desejamos, temos limites e nossas vidas são influenciadas por vários fatores e sejam eles quais forem, quis o destino que a história dessa temporada se encerrasse assim.
Entretanto, que fique claro, não foi uma temporada de menos lutas, ou de menos garra, estou convicta de que todos fizeram seu melhor, a infelicidade é que por vezes não foi o suficiente e a vida tem dessas coisas, às vezes toda nossa dedicação, esforço, confiança são insuficientes, porque há muito a nossa volta que influencia o rumo das coisas. É por isso garotos que agora estou aqui para lhes agradecer, pela primeira temporada completa de muitas que sei que ainda viverei com vocês. Agradecer por todo empenho, por não desistirem, por desejarem sempre evoluir e nos proporcionar alegrias.
Não me importo com a colocação no campeonato, com o que talvez tenha dado errado, isso agora é passado, história, porém tenho certeza, será fundamental para o próximo passo, para avançar, lutar e acreditar. Há uma longa estrada a nossa frente, nos esperando para ser trilhada e sei que esse tempo distante vai trazer a tona tudo de melhor que existe em vocês, vai equilibrar as energias, as forças e lhes trará de volta em sua melhor forma.
Eu sei que talvez alguns não voltem e não vou dizer que isso não doa, mas estou me tornando mais consciente, sei e sinto que mudanças a acontecerão, aliás, já começaram, no entanto isso não muda minha fé, meu amor, meu carinho. Enquanto vocês estiverem traçando os novos rumos, começando de novo, eu vou estar aqui, me preparando também, tentando controlar minha ansiedade e minha saudade, que sei haverá momentos que será insuportável, para recebê-los de volta, para lhes estender a mão e dizer: “Continuo aqui!”, para saudar quem vier, chorar e torcer por quem for, para simplesmente iniciar uma nova temporada, com novos medos, novas alegrias e novos momentos para registrar.
Eu não preciso mais provar nada a ninguém, meu amor foi construido em base sólida e agora está enraizado, não tenho mais as dúvidas que tinha antes da recente temporada iniciar, não preciso mais ficar especulando comigo mesma sobre como o grupo e até outras pessoas me enxergam, eu sou o que sou e é assim que sou vista e assim sou aceita, não há nada melhor do que isso!
Então, meus amores, para findar quero lhes desejar tudo de melhor e que cada um possa encontrar dentro de si o que precisa para tomar a melhor decisão e seguir correndo atrás de seus sonhos e quero deixar meu muito obrigada por tudo, para cada vez que vocês vestiram nossa camisa e nos honraram, tiveram bravura de perseguir os objetivos e humildade para assumir deficiências e reconhecer erros. Obrigada por todos os sorrisos e abraços, pelo carinho, mas principalmente por receberem meu amor com tanta ternura e por me permitirem fazer parte desse mundo… e acreditem, eu estou apenas começando…
Boas férias a todos e que logo possamos nos reencontrar! Fiquem com Deus e até a volta! Vou morrer de saudades…

4 thoughts on “Não dá pra não pensar em vocês…

  1. Lindo post Ketty!
    Quase chorei aqui… deu uma saudade!

    Vamos esperar agora as novas contratações e que o tempo passe logo! hehe

    Beijão!
    Se cuida!

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