Pertencimento

Não sei se o universo tem conspirado para eu voltar, só sei que nesse momento ele me tirou da cama. Tem uma semana que tudo que está ligado ao basquete aflorou, lembranças, desejos, saudade, muita saudade. Saudade de quem me transformei após o basquete entrar em minha vida. Saudade do respeito, da admiração, do sentimento de dever cumprido, da certeza de que estava fazendo alguma coisa boa, que de alguma forma estava ajudando me mantinha firme no propósito de levar sentimentos através de palavras às pessoas, que como eu, amavam o basquete e queriam vê-lo vitorioso.

Sempre diziam que eu conseguia traduzir sentimentos comuns a muitos torcedores, porém que não conseguiam se manifestar da mesma maneira. Do outro lado eu tinha os atores principais me dizendo que minhas palavras ajudavam e então eu sabia que estava no caminho certo e isso me bastava. Nunca busquei fama, reconhecimento, eu só queria dar voz a um sentimento que crescia dia após dia em meu peito: uma mistura de encantamento, amor e gratidão, porque sim, eu precisava ser salva e o basquete me salvou, me deu um novo começo e sim eu sinto saudades de ser a “menina do blog”.

Há uma semana eu idealizei minha publicação no instagram a respeito do blog, mas me perdi no tempo e não aconteceu, porém tive algo muito melhor, depois de tantos meses revi nossos meninos e meu coração se encheu de paz, ao mesmo tempo que apertou meu peito de saudade, uma saudade que eu nem tinha ideia que estava ali. Eu queria chorar, pois dentro de mim a emoção transbordava, não era pra menos o local do reencontro foi nada mais nada menos do que o lugar aonde eu “comecei a jogar”, sim com aspas porque não sei se da para chamar o que eu fazia de jogar, mas foi aonde tomei gosto pelo esporte, ao mesmo tempo que entendi que não tinha o menor talento para ele. Estou falando do Ginásio da Unisociesc, que na minha época era simplesmente aonde acontecia a Educação Física do alunos da Escola Técnica Tupy.

Vinte anos, foi o que me separou daquele momento. Estive no campus em outras oportunidades sim, pois votava e trabalhava como mesário na instituição, anteriormente passei duas ou três vezes pelos corredores quando coletava votos para o Sindicato em que trabalhava, mas isso nunca me oportunizou acessar o ginásio em especial e eu não tinha noção da magia que ele exercia sobre mim quando unida ao basquete. Eu tinha ideia que a instituição como um todo me trazia muitas lembranças, em sua maioria boas, pois muito do que sou hoje foi desenvolvido naquelas salas de aula, em especial o prazer pela escrita, então sim, a escola sempre foi muito importante para mim, só não imaginava que isso fosse extensivo ao ginásio.

Não bastasse esse reencontro com meu passado, houve outro reencontro, com meu queridíssimo Espiga, depois de mais de 5 anos. Na última vez não consegui encontrá-lo então acabei não fazendo planos e simplesmente quando vi ele estava nos chamando para cumprimentar e foram os minutos mais sensacionais, foi quando entendi, mesmo relutante que não da para apagar tudo que foi construído com o blog mesmo que não seja mais tão intenso, tudo aquilo foi verdadeiro e não apenas para mim, faz parte da minha vida e de quem eu sou.

Ainda, nesse universo de surpresas reencontrei uma grande amiga, que não é da cidade e que não via há vários anos também. Uma amiga que o basquete e o blog trouxeram para minha vida e que foi crucial, junto com outras duas na consolidação de muitos eventos relacionados ao basquete. Falo da Leticia minha amiga doidinha e nômade, que muitas vezes mesmo sem estar presente fisicamente, me impulsionava e que juntamente com a Rafa e a Aline  formou nossa “máfia”. Sua passagem pela cidade foi uma oportunidade de reunir parte da máfia novamente e quantos sentimentos bons brotaram desse reencontro Leticia, Rafa e eu. Tudo isso mexeu muito comigo e com meu coração, mais laranja que vermelho.

O mundo de hoje é diferente do de 2009, quando iniciei. A comunicação era orkut, não haviam tantas mídias, pouco se conhecia de redes sociais  para levar informação as pessoas. E foi nesse contexto que me inseri, eu queria que as pessoas soubessem, eu queria envolver as pessoas com nosso basquete, queria deixa-lo próximo de todos. Matei as pessoas de cansaço muitas vezes com meus enormes textos, mas ainda assim as pessoas liam e mesmo que não comentassem e sabia que estava fazendo a minha parte e isso me deixava feliz. Agora tudo é muito ágil, em tempo real, fotos e vídeos levam segundos para ganharem o mundo, ninguém ( ou pelo menos a esmagadora maioria) não tem paciência para ler nem dois parágrafos que dirá um monólogo, foi assim que esmoreci e me deixei derrotar pela falta de interesse das pessoas, esquecendo o fundamental: homenagear a equipe e usar aquilo que muitos classificam como um dom para registrar a história por trás de cada jogo, cada campeonato, cada pessoa que fez parte disso.

Eu sinto muita falta desse ambiente que construí com tanto carinho e confesso que pensei diversas vezes que era hora de encerrar, manter o acervo, deveras desorganizado e fechar as portas, deixando claro que não haveriam mais publicações, porém não consegui, não sei ao certo por quê. Ao longo dos anos amadureci, consolidei uma carreira, vi os desafios e responsabilidades pessoais crescerem e sim, cheguei a acreditar que tinha ficado velha demais para tudo isso, que não havia mais espaço para esses sentimentos. Também pensei que meu interesse havia mudado, que eu não enxergava mais o basquete com a mesma intensidade e importância, visto que as coisas que me machucavam naquela época não existiam mais, porém cada um desses pensamentos caiu por terra a uma semana, quando eu entendi que não importa o caminho que minha vida tomar, não importa se vou conseguir escrever, atualizar o blog, desejar boa sorte, ir a um treino ou a um jogo, meu coração ainda está em quadra, não importa o que eu faça ou deixe de fazer, é a quadra que ele pertence. Assim, eu vou continuar aqui.

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